terça-feira, 20 de julho de 2010

Gouttes


Faziam mais de 63 horas agora, tinha certeza. Estava imóvel, fixo ali. Seus movimentos restringiam-se aos da face. Era como uma pedra. Uma pedra com um rosto. Tudo que podia ver era o seu corpo imóvel e as folhas das árvores. Nem o céu consiguia enxergar. Haviam tantas folhas que chegavam a formar um teto esverdeado com certa traslucidez. São folhas a perder de vista...

Ele estava com tanta sede, com tanta fome! Ah! Uma chuva, que agradável seria... Algum tempo depois ele acorda, assustado, quase apavorado com um som grave e alto. E em seguida, como o zumbido de centenas de insetos teve a certeza: era chuva. Chuva? Isso não chega a ser chuva... Era uma garoa, bem fina, por sinal. Essa água jamais chegará ao chão...

Esperou as gotas pingarem, de folha em folha. E dessa folha até a outra. O tempo parecia passar devagar, era como se só enxergasse focadamente aquela folha. Pingue ali, por este caminho... Aquela folha, que terminava em um bico perfeito próximo aos seus lábios. Através daquela folha a vida poderia chegar em sua boca.

Garoou pouco, poucas foram as gotas que seguiram o cominho correto até a folha que ele tanto desejava que ficasse pesada o suficiente para derramar aquele líquido em sua língua seca. Aguardou tão ansiosamente por isso que deixou a língua extendida para que a água a tocasse mais rápido. Vamos, gotas. Aproximem-se...

Aproximaram-se e chegaram até onde ele tanto ansiava: sua língua, mas que agora não estava mais estendida e sim tombada, cheia de gotas d'água em cima.

Um comentário:

  1. juh parabéns fiquei impressionada com seus textos vc escreve muito bem!!!
    bjinhus

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