quinta-feira, 15 de julho de 2010

Oreilles de lapin.


Era de um cor-de-rosa quase magenta, a pelugem não era brilhante, mas fosca. Tinha olhos cinzentos e lacrimosos, tinha o hábito de chorar. Uma vez, por distração, um tombo o fez fraturar o nariz, que agora tinha um formato cômico de coração invertido. As bochechas eram balofas e coradas. Nunca existiu uma criatura que não se contagiou com sua risada destrambelhada.
Andava sobre duas patas, apesar de possuir seis. Gostava desta sua qualidade, podia fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Mas sua caracteristica mais marcante, eram suas orelhas, grandes e pontudas. Bem em cima da sua cabeça. Ele tudo ouvia.
Ouvia o som da chuva, do vento, dos passaros a cantar nas árvores já sem folhas, o inverno havia chegado.
O tempo passou, e nenhum daqueles sons restou. Nem o piano que um ser-humano tocava em sua casa, próxima da floresta, restou. Agora só os mais confusos sons. As centenas de televisões do prédio na entrada da cidade, os carros que passavam na estrada e seus rádios com músicas barulhentas e computadorizadas.
"O que acontece com esses bichos que teimam em ser tão barulhentos? Será que eles tem a capacidade de contemplar o som da chuva? do vento? das folhas das árvores se chocando?"
O pequeno animal pensou nisso por muito tempo, quase uma eternidade. Gastou o resto de sua existência a analisá-los; até que um dia ficou muito doente.
Foi no último dia de dezembro de um ano qualquer. Ele foi piorando, cada vez mais fraco, cada vez mais sentindo o som fúnebre aumentar, e quando ficou completamente comprometido com este som, com o fim da sua existencia, com a paz e o alívio da dor que se aproximava, ele escuta, bem ao fundo, mais uma vez, o som dos seres-humanos. 'Até a morte festejam com barulho!' - ele pensou. E em seguida tudo cessou. Foi tomado de um silêncio absoluto e uma onda de serenidade passou pelo corpo do animal que já não estava mais lá.

3 comentários:

  1. coelho-alienígena-que ri, você me lembrou da minha coelha-nãoalienígena-que não ria e meus olhos bobamente se encheram de lágrimas. não faça isso comigo novamente dona Juliana Neves Gomes rs. Amei, ok? <3

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  2. Muito legal, Ju, você escreve bem! =D

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