segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Le passé.

- Para ler ao som de Kate Nash - "Nicest Thing"




Ia rolando por ali e por lá, sentindo com suas minúsculas patinhas as texturas do mundo, sentindo os declives com seu casco craquele em dois tons, sentindo os olores dos asfaltos, quinas e dos espaços pouco relvados, tão impróprios para ele.
Procurava a qualquer custo, sem tino, aquele lugar, úmido, com cheiro acre mas com tato de relva aparada. Lembrava-se de rolar na erva que parecia nunca crescer. Rolava, simplesmente. Até que parou e tentou lembrar da geografia do lugar. Isso ajudaria a encontrá-lo novamente.

Mas não importava o que fizesse, não se lembrava. Começou a rolar no local que estava mesmo, em círculos, só pra ver se não sentia um vestígio de memória do chão, da terra, das rochas ou da areia. Não, não poderia ter esquecido. Como voltaria lá agora? O desespero tomou conta de seu pequeno corpo, se contorcia em dor, vergonha de ter esquecido de algo tão precioso.Como poderia rolar tranquilamente pelo resto de seus dias sem lembrar-se do relevo? COMO? Já não importava se iria voltar lá algum dia ou não. Só precisava daquela lembrança que de tão suave, escapou. Foi-se como a brisa, foi-se como o algodão, como a seda, como mel. doce e suave. se foi.

E restou-lhe essa angústia que o consumia de dentro pra fora,doía tanto que chegou a preferir a morte,doeu tanto que anestesiou, como um relógio sem bateria, parou aquele ciclo contínuo de brasa em sua pele. Rolou em linha reta novamente, mas como um relógio sem bateria e não quebrado: sempre lá, com as engrenagens prontas para funcionar novamente a qualquer sinal de lembrança de umidez, relva aparada ou cheiro acre.

Um comentário:

  1. Juju adoro o jeito que vc trata dos sentidos, é tão natural!
    Adorei mesmo!
    Parabéns

    ResponderExcluir