domingo, 15 de maio de 2011

Primus canis

Só faltava abrir portas com suas patinhas peludas.Subia e descia escadas o tempo todo. Acompanhando sempre o menor movimento daqueles humanos que o adotaram.Gostava de pensar que era o mais velho dos 5 irmãos pois estava curioso demais para esperar mais seis horas.

No auge de sua curiosidade infantil, se fechou dentro da geladeira. Por sorte, a garota o resgatara em menos de cinco minutos.

Porém o verdadeiro episódio marcante aconteceu não muito tempo atrás.
Havia na sala de descanso uma estante linda, de um tom quente, que, de alguma maneira sabia ser cerejeira. Na parte de cima ele sentia a leve coceira de uma camada de poeira, já que fazia quase uma semana que não era limpa. Havia duas prateleiras nas quais estavam cuidadosamente encaixados diversos livros com resquícios de farinha e fermento em pó. Por algum motivo que não entendia, a garota gostava de levá-los para o lugar onde era feita a comida.Mas sua parte favorita era o armário.
Portas transparentes e conteúdo idem. Tudo tão sedutor! Vivia apoiando suas patas ali, sempre na esperança que de alguma forma se abrissem.

Se via encostado ali quase todos os dias, tentando ver o que havia na parte mais escura e profunda do armário.
Até que um dia acordou sozinho e determinado. Arranhou aquela porta por horas até que se quebrou. Estilhaços voaram por todas as direções.
No primeiro segundo sentiu-se no paraíso, no segundo, no inferno. Todo o seu corpo queimava com a força de mil sóis. Mil estilhaços, mil cortes, mil cicatrizes.

Após uma cirurgia se sentiu melhor. Mas os veterinários esqueceram-se de uma farpa de vidro que ficara naquela pata curiosa.

E ali ficou para o resto de sua vida. Acompanhando e espetando a cada lugar qu ia, a cada passo que dava.

Um comentário:

  1. Ju cara, você é uma vadia, quase me fez chorar.
    Gosto do que vc escreve é facil de sentir o que vc quer passar.
    Teamo.
    Sté

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